“Trate as pessoas como se elas fossem o que deveriam ser e você as ajudará a ser o que elas são capazes de ser”

 Johann Wolfgang Von Goethe

 

A fase da adolescência é vista como um período de transição. É um momento em que passamos a ter uma vida em plena ebulição, um período de intensidade emocional, social e, sobretudo, de muita alteração cerebral.

            Essa transição entre a infância e a vida adulta – que compreende dos 11 aos 24 anos – concentra uma série de alterações cerebrais, que levam esse grupo a descobrir sua identidade, definir sua personalidade e ainda reformular os valores adquiridos na infância.

            Sobre as alterações cerebrais, nesse período há uma remodelação, uma poda neuronal. Esse corte de conexões é necessário para gerar importantes mudanças na maneira como funcionamos enquanto adolescentes, podendo inclusive desmascarar alguns problemas potenciais.

            Para Siegel (2006), é no período da adolescência que mais pode surgir problemas de ordem da saúde mental, como as dificuldades de humor, como a depressão e o transtorno bipolar, as dificuldades de raciocínio, como a esquizofrenia. Para o autor, “a poda combinada com as alterações hormonais e as mudanças genéticas moldam nossa atividade neuronal e o desenvolvimento sináptico, transformando o funcionamento cerebral de forma dramática durante os anos adolescentes” (p. 96).

Portanto, a adolescência não se trata apenas de mudanças na forma física, mas essencialmente em mudanças das capacidades mentais e de uma grande transformação na forma de ser e viver.

Vejamos as três diferentes etapas que percorrem a adolescência, bem como algumas de suas respectivas características.

            A primeira etapa é conhecida como adolescência inicial (11 a 14 anos), nesse período nasce a autodescoberta; há uma crise de crescimento físico, psíquico e de maturação sexual; há um desequilíbrio nas emoções, que refletem em uma sensibilidade exacerbada; não há consciência daquilo que estão passando; precisam se integrar e até mesmo se refugiar em grupos de amigos (LIRA, s.d.).

            Na segunda etapa, considerada adolescência média (13 a 17 anos), há a descoberta do “eu” – o adolescente precisa viver dentro de si mesmo. Surge a necessidade de amar e de ter intensas amizades; a timidez se apresenta enquanto uma característica, onde há medo da opinião alheia, motivado pela desconfiança em si mesmo e nos outros; o adolescente apresenta uma série de conflitos interiores, além de comportamentos negativos, baseados em inconformismo, causados pela frustração de não poder exercer sua liberdade de forma plena, irrestrita (LIRA, s.d.).

            A terceira etapa, conhecida por adolescência superior (18 a 24 anos), é constituída pelo encontro do adolescente com o jovem adulto, geralmente ele se sente melhor integrado no mundo em que vive; ele se mostra menos vulnerável às dificuldades; apresenta autodomínio; começa a projetar sua vida e com ela passa a tomar decisões importantes sobre os estudos, a carreira profissional, os relacionamentos, sobre o futuro em geral; estabelece relações mais pessoais e ainda mais profundas (LIRA, s.d.).

            Todas essas características relatadas são necessárias para criar importantes alterações que acontecem em nosso raciocínio, emoções, sentimentos, interação e tomada de decisões durante a adolescência.  Além disso, essas mudanças referem-se a quatro qualidades que a mente adolescente estabelece nesse período: 1) a busca por novidade; 2) o engajamento social; 3) o aumento da intensidade emocional; 4) a exploração criativa (SIEGEL, 2006).

            Sobre essas qualidades desenvolvidas especificamente durante esse período de mudança na adolescência, Siegel exemplifica (2006, p. 13-14):

“1. Busca por novidade. Surge de um aumento do desejo por gratificação nos circuitos do cérebro adolescente, criando a motivação interior para tentar algo novo e sentir a vida de maneira mais plena, gerando maior engajamento com a vida.

2. Engajamento social. Aumenta a conexão entre os adolescentes e cria novas amizades.

3. Aumento da intensidade emocional. Dá uma vitalidade maior à vida.

4. Exploração criativa. Com um sentido expandido de consciência. O raciocínio abstrato e o novo pensamento conceitual do adolescente permitem o questionamento do status quo, abordando os problemas com estratégias inovadoras, com a criação de novas idéias e sua aplicação”. (p. 13-14).

Considerando essas quatro características que se desenvolvem fundamentalmente na adolescência, vale ressaltar a importância do educador no processo de desenvolvimento dos adolescentes, haja vista que muitos estudos demonstram que quando professores acreditam e sugestionam que eles têm uma “inteligência limitada”, esses estudantes apresentam um desempenho acadêmico pior do que os outros, cujos professores não apresentavam essa ideia pré-concebida (SIEGEL, 2006). Dessa forma, é válido considerar que os adolescentes absorvem todas as mensagens passadas, sejam elas positivas ou negativas sobre quem são e o que se espera deles.

Nesse sentido, é importante que o educador, terapeuta ou familiar busque a prevenção e a promoção do bem-estar psicológico do adolescente, para protegê-lo de experiências adversas, dos fatores de risco que possam vir a afetar seu potencial para prosperar biopsissocialmente e especialmente possa levá-los a encarar essa fase como a melhor fase da vida!,

            Com isso, é importante que nós adultos compreendamos e respeitemos cada um desses momentos vivenciados e que aproveitemos também dessas situações para estimular a força da mente adolescente que emerge ao máximo do seu verdadeiro potencial.

SIEGEL, D. J. Cérebro adolescente: o grande potencial, a coragem e a criatividade da mente dos 12 aos 24 anos. São Paulo: nVersos, 2016, p. 286.
LIRA, F. C. Etapas da adolescência. s.d. Disponível em: < http://educacao.aaldeia.net/etapas-adolescencia/>. Acesso em: agosto 2019.

Maewa Martina
Maewa Martina
Doutora e mestra em Educação, na linha Educação Especial, pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Especialista em Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Intelectual pela mesma Universidade. Psicopedagoga Institucional e Clínica pelo Instituto de Ensino, Capacitação e Pós-Graduação. Pedagoga pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Atualmente desenvolve conteúdo pedagógico na Brain Academy. Tem experiência na área da Educação, especificamente em Educação Especial e desenvolve pesquisa com as seguintes temáticas: metodologia de pesquisa, estatística não-paramétrica, psicopedagogia, dificuldades de aprendizagem, concepção de deficiência, atitudes sociais em relação a inclusão, mudanças de concepções e atitude sociais, formação de professores, inclusão escolar e social.

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