Passar pelo câncer de mama foi uma das experiências marcantes da minha história nesses 57 anos de vida.

Você nunca está preparada para receber um diagnóstico de câncer, pois, por mais que se fale em prevenção, com certeza é uma das doenças mais temidas da humanidade. Esse medo coletivo tem muita ligação com tantas perdas pelas quais passamos ao longo da vida. Todo mundo tem alguém próximo que morreu de câncer. Não foi diferente comigo.

No auge dos meus 45 anos, cheia de energia e vontade de trabalhar, realizar e acontecer, fui fazer a primeira mamografia da minha vida. Acho que até um pouco tarde, mas naquela época não tinha tanta consciência dessa necessidade. E qual foi minha surpresa e espanto ao ouvir o médico dizer na “lata” que eu precisaria fazer uma cirurgia na próxima semana e que meu diagnóstico era câncer de mama. Não tinha sinal nenhum que pudesse ser detectável com o apalpar das mamas, tinha saúde muito boa em relação a enfermidades do dia a dia, como gripe e outras dores que afetam muitas pessoas. Sentia-me totalmente saudável!

O diagnóstico precoce foi fundamental para mim. Virou a vida e minhas emoções de cabeça para baixo, do dia para noite, mas foi muito importante em diversos sentidos: em primeiro lugar porque estou viva hoje, trabalhando e sendo produtiva, até mais do que era na época. Fazer as intervenções necessárias para ser curada, de forma precoce, me deu de volta a vida que poderia ser ceifada por essa doença.

Segundo, fui extremamente fortalecida na minha saúde mental e emocional pois enfrentei e superei um dos maiores medos que tinha: o medo de sofrer. Lembro-me muito bem de estar refletindo e conversando com Deus, dizendo: eu enfrento o câncer, mas por favor não me deixe ter pânico novamente. O transtorno de ansiedade que vivenciei alguns anos antes tinha sido causa de grande sofrimento emocional e apavorante por não saber como combater. Quando aprendi e entendi que poderia gerenciar minhas emoções e ser aliviada da ansiedade e medo constantes que tiravam meu equilíbrio e minha saúde mental, superei esse transtorno. Isso foi tão libertador e gratificante que me fez terminar o curso de psicologia iniciado na juventude para ajudar outras pessoas que como eu passavam por algo semelhante. Porém, agora, sabia que esse diagnóstico poderia ser um gatilho para que o medo e a ansiedade me dominassem novamente, e que eu precisaria gerenciar muito para não ter duas doenças junto: o câncer e o pânico. A luta na mente se travou, mas o entendimento dos processos emocionais e mentais me ajudaram a ultrapassar mais esse obstáculo da minha jornada.

E terceiro, mas não menos importante, foi o desenvolvimento pessoal, social e espiritual que vivenciei nesse período. Não me isolei na minha dor e sofrimento, mas compartilhei a experiência com as pessoas que me amavam e com a comunidade (igreja) da qual fazia parte. Tive o apoio maravilhoso desses amigos e me lembro com carinho de cada experiência. Tudo isso me fez valorizar ainda mais a Deus, a espiritualidade, as amizades, o amor, o apoio de uma visita, o auxílio da amiga que me ajudou até a tomar banho, aquelas que trouxeram uma comida especial no período de convalescença ou de outros que me visitaram com uma florzinha nas mãos. Todo carinho que recebi me fez repensar a vida, meus valores e tomar a decisão de me dedicar a esses valores. O propósito de vida passou a ser mais importante do que o meu sucesso ou o dinheiro que pudesse ganhar, as coisas que pudesse comprar. Estar de frente com a morte me fez valorizar o que mais avaliei ser essencial para mim: Deus, propósito de vida, família e relacionamentos.

Passar por um câncer poderia ter se tornado um trauma, mas se tornou uma das maiores aprendizagens que eu poderia ter nessa curta trajetória que temos nessa terra.

Deixo aqui o link de uma música que foi meu hino durante esse período e que me traz à memória uma das mais lindas experiências que tive. Estava operada e pedi para que a comunidade de quase 500 pessoas cantasse essa música comigo. No momento, senti uma grande vontade de levantar meus braços em sinal de rendição e gratidão a Deus e não podia, devido à cirurgia. Uma das pessoas da comunidade foi à frente e disse: ela não pode erguer os braços, mas nós podemos erguer por ela e convidou a todos que levantassem os braços enquanto cantavam a música. Talvez ninguém se lembre disso, mas para mim foi muito precioso e inesquecível, porque me fez sentir amada e apoiada, num momento em que a solidão, os medos e as angústias me rodeavam.

Finalizo deixando umas dicas baseadas em tudo que passei:

  1. Nunca deixe de fazer seus exames preventivos. Sua vida tem muito valor e não há nenhum trabalho ou compromisso que seja mais importante do que você cuidar da sua saúde.
  2. Se estiver passando pela doença lembre-se que a experiência não necessita ser somente dor, sofrimento ou trauma, mas pode ser também uma experiência de amor, crescimento e superação.
  3. Permita-se ser vulnerável, ser ajudada e amada pelas pessoas à sua volta. Não se isole e não mergulhe na solidão da doença. Não somos somente força, nem somente fraqueza. Somos humanos e passamos por momentos em que precisamos do outro e outros momentos em que seremos a força do outro.
  4. Busque ajuda psicológica/psiquiátrica, pois a força das emoções é muito importante para a cura, assim como pode ser um desencadeador de resistência ao tratamento. Não é vergonha nenhuma precisar de tratamento psicológico e medicamentoso para se fortalecer nessa hora.

Clique e assista o vídeo: Tudo o que sou (With all I am), com Eyshila e Massao Suguihara

Regina Suguihara
Regina Suguihara
Psicóloga/Neuropsicóloga – Founder President Brain Academy

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