Quando recuperamos algumas memórias históricas nos vem à mente exemplos de alguns músicos criativos que se tornaram atemporais. Quem não se lembra de Carlos Gomes (com a obra O Guarani), Heitor Villa-Lobos, Antônio Carlos Jobim, João Gilberto, Cartola, Pixinguinha e tantos outros artistas? Há quem tenha lutado contra abusos políticos no Brasil, com sua criatividade musical, representadas em belíssimas composições do período da ditadura militar como, por exemplo, Cálice de autoria de Chico Buarque de Holanda e Gilberto Gil.

No entanto, a música não se restringe apenas às mazelas ou conquistas da sociedade, ela também está presente no campo científico, tanto na área da educação quanto da saúde como, por exemplo, nos estudos de neurociência de Daniel Levitin, Gottfried Schlaug e Oliver Sacks; de educação musical, com John Sloboda, Beatriz Ilari e Marisa Fonterrada; e de educação especial, especificamente, estudos sobre o talento musical e a criatividade artística, com os estudos de Joanne Harroutounian e Dina Kirnarskaya.

            A área da música pode ser considerada um campo fértil para o desenvolvimento humano e da criatividade. Geralmente, as inovações na área se alinham a um momento histórico determinado e necessidade social, e também à relevância atribuída pela sociedade naquele determinado momento. Diante disso, quanto mais cedo a cultura do país (música, dança, artes, teatro, tecnologia, etc) for explorada pelas crianças e/ou jovens, com o apoio de suas famílias, maiores serão os benefícios para o seu desenvolvimento. Tanto a criatividade quanto os elementos musicais dependem do valor que a sociedade e a família despende a eles.

            A criança e/ou jovem, para criar, necessitará de repertório cultural, determinadas vivências e experiências que permitam formulação de problemas para, então, pensar a sua resolução. Na atualidade muitas pessoas têm criado produtos fantásticos, músicas e inovações científicas estão senso premiadas, porém, sem desmerecer os esforços, quantos desses produtos impactaram e permanecem ou estão em uso na sociedade?  É preciso lembrar que saber formular ideias novas e testáveis pode contribuir mais do que resolver problemas.

Pessoas criativas não são meras consumidoras de conhecimento, mas produtoras. Esses produtos não são apenas produtos concretos ou conceitos, mas podem ser composições para fruição. Esse perfil de pessoa pode levar a sociedade ao progresso, não somente científico, mas cultural. O que seria da Bossa Nova se não fosse João Gilberto e seus companheiros compositores? O que seria da música brasileira se não fossem os esforços e a criatividade dos artistas brasileiros?

            A criatividade, independentemente da área, combina os seguintes fatores: originalidade, engenhosidade construtiva, habilidade para desconsiderar procedimentos e convenções estabelecidas sem desvalorizar o que outros fizeram antes, aptidão, autoria, planejamento, propósito social, identidade, personalidade e consciência humana.

            Por isso, famílias, escolas e a sociedade em geral tem grande importância. Para que a criança e/ou jovem se torne criativo necessitará de experiências sociais, afetivas, culturais e estéticas significativas, além de enriquecimento e interação com os outros. Para criar é preciso repertório cultural, vocabulário estético e diferentes conhecimentos. Trata-se de um processo árduo. Portanto, encorajar, engajar, motivar, dar acesso, permitir a liberdade de pensamento e oportunidade às crianças e/ou jovens é fundamental.

            Uma ideia desperdiçada, um processo criativo tolhido, a falta de escuta e reflexão, um pensamento transgressor não valorizado, enquadramentos, intolerância, radicalismos, preconceito, capacidades desperdiçadas ou mal aplicadas e conduzidas, um talento não descoberto impedem que a criatividade aflore e modifique a sociedade como um todo, além de inviabilizar o progresso de um país como o Brasil.

Dra. Fabiana Oliveira Koga
Dra. Fabiana Oliveira Koga
Formada em Educação Musical e pianista, especialista em psicopedagogia, mestre e doutora em Educação. Integra o Grupo de Pesquisa para o Desenvolvimento do Potencial Humano na UFSCar – São Carlos/SP. Autora do Protocolo para Screening de Habilidades Musicais e do sistema que integrará informações musicais e referentes ao talento denominado Profa. Fabi, ambos em reformulação no momento. Atualmente docente no Colégio Sagrado Coração, Marília/SP, Rede Sagrado de Educação, ministrando a disciplina de Educação Musical com ênfase no enriquecimento do talento e da precocidade musical.

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