“Nossa! Que criança mais chata! Parece com a tia quando era pequena.”

“Que menino mais chorão! Meninos não choram!”

“Essa menina é muito inteligente! Vai longe!”

“Nossa! Que adolescente mais preguiçoso!”

“Como ela é boazinha!”

Algumas dessas frases, dentre outras similares, são ditas diariamente, repetidas vezes. Algumas delas soam até inofensivas, até parecem ser carinhosas.

Nós temos o hábito geracional inconsciente de rotular; nossos avós agiam assim, nossos pais e assim por diante. Dessa forma, vamos entendendo que “classificar” as crianças e os adolescentes conforme certas características é algo absolutamente natural.

O que não nos damos conta é que para crianças e adolescentes os rótulos têm um poder que muitas vezes pode ser considerado avassalador, podendo soar quase como uma sentença. Mesmo que em tom de elogio, esses rótulos podem vir a ser o caminho mais curto para tolher os potenciais futuros.

Muitos estudiosos afirmam que as crianças e os adolescentes ainda não sabem quem são, haja visto que sua identidade e personalidade está passando por um processo de desenvolvimento. Durante as fases de desenvolvimento, a maior referência, a priori, são os pais, os responsáveis mais próximos e, em segundo momento, os educadores. São os adultos quem dizem o que eles são, o que devem ser, bem como são os adultos que lhes dão o conceito de identidade.

Por isso, não podemos rotular as crianças a partir de comportamentos pontuais, – por exemplo, o fato de a criança ou o adolescente gostar de dormir até mais tarde, não o torna uma pessoa preguiçosa – justamente porque o comportamento é um estado, não é de modo algum, a definição de quem verdadeiramente a criança ou o adolescente é.

Enquanto seres em construção, as crianças e os adolescentes podem acabar se tornando “reféns” dos rótulos, inclusive como comentado anteriormente sobre os rótulos tidos como positivos. Elas ficam presas a essa necessidade diária de ter que corresponder às expectativas, corresponder ao que dizem dela, fazendo com que não se reconheçam além do rótulo.

Sendo assim, quais são as consequências da aplicação desses rótulos?

À medida que rotulamos, não oportunizamos momentos de liberdade e autonomia, e reduzimos todo potencial de experimentações.

O que podemos fazer para evitar esse processo?

Precisamos ouvir mais as crianças e os adolescentes e, com isso, aceitar como eles são; até porque é muito fácil, e ao mesmo tempo simplista, inserir “pessoas em caixinhas”. Eles não são assim, não há um padrão de comportamento que permaneça durante todo o dia. Crianças e adolescentes podem errar em um determinado momento, acertar em outro, ser absolutamente maravilhosos em determinadas situações e péssimos em outras.

Precisamos parar de rotular, parar de perpetuar rótulos e permitir que essas pessoas sintam-se amadas, protegidas, para expor seus sentimentos, suas emoções, suas atitudes, sem rótulos ou estigmas.

Maewa Martina
Maewa Martina
Doutora e mestra em Educação, na linha Educação Especial, pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Especialista em Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Intelectual pela mesma Universidade. Psicopedagoga Institucional e Clínica pelo Instituto de Ensino, Capacitação e Pós-Graduação. Pedagoga pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Atualmente desenvolve conteúdo pedagógico na Brain Academy. Tem experiência na área da Educação, especificamente em Educação Especial e desenvolve pesquisa com as seguintes temáticas: metodologia de pesquisa, estatística não-paramétrica, psicopedagogia, dificuldades de aprendizagem, concepção de deficiência, atitudes sociais em relação a inclusão, mudanças de concepções e atitude sociais, formação de professores, inclusão escolar e social.

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